Durante sua passagem pelo Brasil, em dezembro de 2019, Gal Gadot concedeu uma entrevista à revista GQ do México, na qual ela fala sobre Mulher-Maravilha 1984 e sobre a luta das mulheres em Hollywood. Confira a tradução abaixo!
São primeiros dias de dezembro de 2019 e os raios de sol batem com toda a força em São Paulo, uma cidade com uma vibe particular: os acordes da bossa nova se misturam às construções impressionantes, enquanto a alegria brasileira se faz sentir as “ruas” e o vento que sopra nos fazem pensar que a qualquer momento vamos dar de cara com o mar, mesmo que esteja há centenas de quilômetros.
Quem vive no hemisfério norte tem uma associação na cabeça a respeito do mês de dezembro: frio, neve (em alguns casos) e árvore de natal ao pé da lareira. Nessas latitudes, tudo muda completamente. A decoração da estação deve dar conta do calor intenso que dá as boas-vindas ao verão. A notícia de um vírus potencialmente contagioso em algumas partes da Ásia parecia distante para a América na época, uma preocupação que ainda não havia chegado até nós. O fato é que, naquela época, São Paulo havia se tornado o epicentro e ponto de encontro de milhares de fãs de quadrinhos que vinham de diversos cantos da nação sul-americana (e até mesmo de fora de suas fronteiras.) para ser parte da CCXP, que reuniu nomes como Margot Robbie, Henry Cavill e Mark Hamill. Mas a cereja do bolo viria no último dia.
MEU ENCONTRO COM A MULHER MARAVILHOSA
A cidade está apenas começando a acordar de seu sono matinal de domingo. O carro que me leva direto ao Palácio Tangará (situado em uma extensa área verde em meio a toda a mata de asfalto) circula suavemente no trânsito de São Paulo, que tem uma das piores fama, mas desta vez, é uma exceção ao régua.
Assim que atravessamos a cerca que separa a propriedade, tudo se torna opulência à nossa volta, enquanto no horizonte, aos poucos, começa a surgir o resort, que realmente faz jus ao seu nome. O veículo preto para e um homem abre a porta do lado em que estou viajando.
“Bem-vindo”, ele me diz. Outro senhor, vestido com um terno preto, logo transforma a conversa em sua língua, o inglês: “Sr. Germán. Me siga por aqui”. O contexto é imbatível: sinto-me imerso em um filme em que tenho como missão conhecer uma princesa cujo objetivo principal é resgatar o mundo de qualquer mal. E assim é. Se por fora o hotel faz jus ao seu nome, por dentro é como pisar num verdadeiro palácio. Um elevador nos leva diretamente ao terceiro andar. “Está tudo pronto para a sua entrevista”, diz-me o homem de preto, e as expectativas aumentam. Um longo corredor com carpete carmesim se estende diante de nós assim que as portas do elevador se abrem. O cavalheiro assume a liderança e eu o sigo.
Caminhamos alguns metros e, de repente, ele para na frente de outra porta. “Um momento, por favor”, diz ele. Abre lentamente e fecha após entrar. Tenho pouco tempo para examinar as pinturas que decoram o longo corredor. “Pronto, Sr. Germán. A senhorita Gadot está esperando por você”, ele me garante.
A sala está perfeitamente iluminada graças a uma enorme janela que mostra a fascinante área verde que circunda o resort. A luz me cega por um momento. Tento focar minha visão e então a vejo vestida com um elegante vestido branco e seu cabelo preto contrastando com a roupa. Gal Gadot agradece o cartão-postal oferecido pelo terraço, mas assim que nos ouve entrar, ela vira a cabeça e sorri para nós.
Após as devidas apresentações, nos acomodamos ao redor de uma mesa. “Como o Brasil está tratando você?” Peço a ela que quebre um pouco o gelo.
“Surpreendente. Gostaria de dizer que conheço muito, mas não. Gostaria de sair ainda mais e curtir o dia lindo e a vitamina D que o sol nos dá”, diz ela com uma risada.
À noite, Gal será a encarregada de encerrar a edição de 2019 da CCXP, por isso, nos jornais e na televisão, sua visita ganha as manchetes. A expectativa para a Mulher-Maravilha 1984 foi crescendo com o passar dos dias, desde seu anúncio, principalmente após o sucesso que representou o primeiro filme, que chegou a ser considerado um dos indicados ao Oscar. E embora não tenha sido assim, foi colocado como um dos favoritos do público em 2017, dos amantes do Universo DC e, claro, dos fãs de quadrinhos.
“Esta sequência representou um desafio”, confessa a atriz israelense. “Foi um projeto muito ambicioso desde o início. Mesmo antes do início das filmagens, muitos nos disseram que não teríamos sucesso, mas Patty (Jenkins, a diretora) e eu respondemos que íamos fazer isso. Enfrentar tal fita envolve uma longa preparação, especialmente no nível do corpo. Depois disso, embarcamos em uma filmagem que durou oito meses sem interrupção. Foi uma filmagem muito longa e, acima de tudo, muito física, porque vocês devem saber que uma das coisas que fizemos foi criar um novo estilo para as cenas de luta”, conta Gal. “Antes de iniciar a produção, Patty e eu fomos com nossas crianças para ver o espetáculo do Cirque du Soleil e, ao final, concluímos que era assim que queríamos que Diana lutasse dessa vez. E assim fizemos, trabalhamos com coreógrafos e evitamos CGI tanto quanto possível, embora isso significasse mais tempo e mais complicações. Por isso, foi uma filmagem longa, que representou um desafio, sobretudo porque sou mãe de duas filhas, e conciliar maternidade e trabalho às vezes é difícil.”
Desde que Lynda Carter vestiu o traje icônico, a personagem tem sido uma referência para muitos. Mas agora que Gal assumiu o Laço da Verdade, e principalmente por causa dos tempos em que vivemos, a Mulher-Maravilha se estabeleceu como uma inspiração para crianças, mulheres e homens. Isso é algo que a atriz sabe muito bem. “Não considero isso leviano, especialmente porque tenho filhas e entendo a importância de bons exemplos. Acho que agora, a herança da Mulher-Maravilha é muito importante e sou grata por isso. Para mim, é vital divulgar sua filosofia para o mundo e, de muitas maneiras, é o que procuro inspirar. Seja uma boa pessoa, seja positivo, ame os outros, faça o bem. Fico muito feliz que esse personagem tenha muito impacto entre as pessoas”.
SOBRE FEMINISMO E SEXISMO EM HOLLYWOOD
Não é novidade para ninguém que Gal Gadot é um dos nomes que tem se envolvido com a luta feminista na Meca do Cinema e em todo o mundo, além de ter aderido às diversas causas pelas quais as mulheres levantaram suas vozes para exigirem condições de igualdade. “Acho que Hollywood não parou de ser sexista. Acredito que enquanto esse problema persistir, será porque não alcançamos o ponto de igualdade que desejamos. Será um caminho longo, sem dúvida, mas ao mesmo tempo, está surgindo essa força de novas diretoras que fizeram filmes fenomenais recentemente, como Alma Har’el com Honey Boy ou Greta Gerwig; uma onda feminina que começou a encontrar seu próprio caminho em Hollywood e que teve sucesso. Estou muito feliz com esse aspecto, porque quanto mais elas forem, melhor será”, diz Gadot.
Mas o que falta para atingir esse ponto esperado? “Ok, agora você está entrando em um negócio sério. Vou te dizer o que é, pelo menos para mim. Pode ser difícil, mas considero que o mundo foi orquestrado e projetado para os homens, porque eles eram a principal força de trabalho. As mulheres começaram a trabalhar durante a Segunda Guerra Mundial, quando tinham que ir para a luta. Foi então que as mulheres começaram a se envolver com o círculo de trabalho, mas os cavalheiros já faziam isso há algum tempo”, reflete. “Não sou o tipo de mulher que aponta para os homens e os culpa por tudo, porque não acho que seja culpa de ninguém em particular; no entanto, acho que levará tempo para corrigir algo que se arrasta por anos e criar um bom ambiente para as mulheres terem oportunidades e salários iguais. Além disso, isso levará a questões como #MeToo, com o qual é importante que outras representantes do gênero feminino em posições importantes falem sobre o assunto. O trem está indo na direção certa e avançando, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, continua. “O que podemos fazer para apoiar essa ideia?”, Pergunto a ela. “Oh, é muito gentil da sua parte (risos). Primeiro, contrate mulheres e promova-as em seus espaços de trabalho. Dê a elas as mesmas oportunidades que dariam aos homens e também pague-as de forma justa.”
Alguns dias antes, durante a apresentação de Aves de Rapina na CCXP em São Paulo, Margot Robbie havia garantido que o feminismo não era só para mulheres, mas também envolvia homens, uma declaração que ganhou as manchetes em um país cujo presidente é caracterizado por seus comentários machistas. “Concordo totalmente com Margot”, diz Gadot. “Eu sempre digo que se você não é feminista, é chauvinista (risos). Portanto, todo mundo deveria ser feminista. Recentemente, tenho sido muito questionada sobre o empoderamento feminino e de que forma este filme pode contribuir para isso, e o que posso dizer é que Mulher-Maravilha 1984 significa muito para as mulheres, significa muito para mim, significa muito para meninas, mas você não pode empoderar mulheres apenas para mulheres; você precisa educar homens e meninos. Por isso, filmes como este são universais e para todos, porque estamos juntos nisso; Não se trata de uma competição, mas de ser tudo para todos.”
O tempo de conversar com Gal Gadot sobre cinema e feminismo passa rápido. E embora eu queira continuar me aprofundando no assunto, uma garota de sua equipe nos interrompe para me avisar que a atriz deve ir embora, pois um grupo de jornalistas locais a espera no andar de baixo com quem ela se encontrará em uma entrevista coletiva. Gal se despede com o mesmo sorriso que me cumprimentou. “Se você tivesse a oportunidade, em quem você colocaria o Laço da Verdade?” Eu questiono enquanto levantamos de nossos assentos para aproveitar o último momento. “Talvez os políticos e certos líderes mundiais para ver se estão fazendo a coisa certa para a humanidade. São tantos que não consigo escolher um em particular.” E termina com uma risada que enche a sala inteira.
Abaixo vocês podem conferir os scans da revista em nossa galeria!
Gal Gadot estampa a capa da edição de agosto da revista espanhol Mujer Hoy e conta como é a experiência em interpretar a Mulher-Maravilha, sua carreira e sua família. Confira entrevista traduzida abaixo.
Por Tana OSHIMA
Falar com uma celebridade é, de certa forma, como cruzar a tela e chegar a um espaço onde o extraordinário se torna comum e, por isso mesmo, extraordinário novamente. Embora a era das divas do cinema tenha praticamente acabado, há atrizes que tornam mais fácil do que outras cruzar a fronteira nítida entre a privacidade de ferro e o domínio público da fama; aqueles que não hesitam em se apresentar como “seres normais”, talvez desejando realmente essa normalidade.
É o caso de Gal Gadot, a atriz israelense de 35 anos que se tornou famosa no mundo todo por seu papel de Mulher-Maravilha. E o que poderia ser melhor do que ser a Mulher-Maravilha, aquela super-heroína da DC Comics que nada mais é do que a filha de Zeus e da Rainha das Amazonas? Nada divo ou divino emana de Gadot ao falar com ela, apesar de ter se tornado, em apenas três anos, uma verdadeira estrela de Hollywood – em 2017, a primeira parte de Mulher-Maravilha bateu recordes de bilheteria e arrecadou 822 milhões de dólares. Sua proximidade é surpreendente, principalmente porque seu olhar, falar e gesticular são os de sua personagem, com aquela voz um tanto áspera e sorridente, inseparável (para sempre?) do caráter benevolente da semideusa grega.
Mas ela não se vê, ou é incapaz de se ver, pois o mundo inteiro a viu e continuará a vê-la através da tela. “É engraçado porque eu não penso nisso. Na verdade, às vezes, quando vejo o filme, tenho que me lembrar que sou eu”, diz a atriz israelense rindo.
Gal Gadot fez sua estreia como figura pública aos 18 anos, quando foi eleita Miss Israel. Ela já foi modelo, dançarina (balé, dança moderna, hip hop) e, antes disso, uma menina que passou uma infância idílica, segundo ela, cheia de inocência e brincadeiras ao ar livre. “Tive uma infância muito doce e feliz”, diz ela sem hesitar. Ainda não havia celulares e em casa eles não me deixavam assistir TV à tarde, então eu estava sempre brincando ao ar livre com meus amigos. Procuro dar às minhas filhas a infância que tive”. Ela não havia considerado atuar até que lhe foi oferecida a oportunidade de aparecer na série Bubot, em seu país natal, Israel. A transição dela foi “muito suave” de modelo para atriz, ela agora admite.
Seu primeiro papel em um filme americano veio em 2009, com a quarta parte da franquia Velozes e Furiosos (Fast and Furious). Ela fez isso, em parte, por causa de sua experiência com armas de fogo. Ela aprendeu a lidar com elas no exército (o serviço militar é obrigatório em Israel para homens e mulheres). Sua experiência no exército também lhe ensinou, diz ela, valores que a ajudaram em sua carreira de atriz. “O exército dá disciplina. Te ensina a perceber que não é sobre você, mas sobre o grupo, sobre a comunidade. Ensina a trabalhar em equipe”, reconhece.
Aquela primeira experiência internacional a fisgou completamente. “Acho que então percebi a dinâmica da filmagem e como é maravilhoso atuar. Eu sempre me apresentava para o público desde criança como dançarina, mas nunca pensei em ser atriz. Mas com Velozes e Furiosos percebi o quanto é divertido. Você atua, aprende o roteiro, viaja, conhece gente… Achei muito mais interessante do que estudar Direito [risos] e decidi que queria continuar tentando”. A tentativa, porém, foi mais difícil do que ela pensava, e levou vários anos para a atriz estrelar um filme americano.
O papel de Mulher-Maravilha (Diana de Themyscira) veio a ela quase por milagre, como se tivesse sido jogado nela pelo próprio Zeus do Olimpo. Poucos meses antes de ser confirmada, Gadot decidiu, desesperada e sem esperança, ou talvez aceitando calmamente seu destino, que ela nunca mais tentaria atuar em um filme fora de Israel. Com muitas rejeições atrás dela e castings que levaram a nada mais do que arrastar sua família de um lugar para outro, ela jogou a toalha logo após fazer o teste para estrelar um filme de super-herói, Mulher-Maravilha. “Quando voltei para o meu país, fiz com a certeza de que aquele filme não seria lançado. Nem é que ela tivesse aquela paixão que outras atrizes têm por atuação. Em vez disso, pensei: “Bem, retomo minha carreira em Direito Internacional e é isso”. Mas desta vez, a sorte ou os deuses estavam do lado deles.
Nos dois filmes da Mulher-Maravilha, a atriz aparece com os atributos físicos das super-heroínas dos quadrinhos: forte, ágil e sensual. O treinamento militar teve muito a ver com o seu condicionamento físico espetacular? “Sempre fui super atlética, por isso é difícil saber se o exército contribuíram para a minha preparação física ou não. Sempre fiz muito esporte; minha mãe era professora de educação física e, quando criança, eu jogava basquete, vôlei e tênis o tempo todo”.
O que ela precisava fazer era passar por um treinamento especial por cinco meses para se tornar a superpoderosa Diana de Themyscira – uma combinação de artes marciais, velocidade e exercícios cardiovasculares que a prepararam para se mover com agilidade surpreendente. Durante a filmagem de uma das cenas, a atriz teve que correr em alta velocidade enquanto era sacudida e desviava de obstáculos. “Foi incrível. Eles cortaram vários quilômetros da Avenida Pennsylvania [em Los Angeles] e eu tive que correr na velocidade de Usain Bolt. Foi exaustivo, mas valeu a pena, porque dá autenticidade ao filme”. Tentando correr na velocidade do homem mais rápido do planeta, mas logo após dar à luz sua segunda filha. Isso realmente soa como Mulher-Maravilha.
A atriz israelense, que se casou com o empresário Jaron Varsano há 12 anos, tem duas filhas, de nove e três anos. “No início deste ano, estabeleci como objetivo dar o meu melhor em casa e me sentir menos culpada pelo que não posso fazer. Sou uma mãe muito envolvida, sou muito próxima das minhas filhas e procuro sempre me certificar de ser a primeira pessoa que elas vêem de manhã e a última antes de dormir. Lembro-me de quando tive minha primeira filha, perguntei ao meu marido como íamos fazer [conciliar trabalho e família]. E ele me disse: “Faça o que quiser, mas pense também no exemplo que você quer dar à sua filha.” E isso teve um efeito muito profundo em mim. Quero que [minhas filhas] saibam que são capazes de fazer o que se propuseram, sem limites”, explica.
“Se há algo que eu aconselho a meninas que querem ser atrizes quando crescerem, é nunca levar a rejeição para o lado pessoal. É um dos motivos pelos quais não quero que minhas filhas continuem minha carreira”, diz Gadot. E parece que, apesar do sucesso finalmente ter chegado a ela, ela ainda tem o sabor amargo das derrotas sucessivas. “É difícil não levar para o lado pessoal quando você é julgado com base em como você age, mas realmente não é. E então eu recomendo que você tenha muita persistência. Se você quer algo, vá atrás. Se cair, levante-se e continue caminhando até chegar ao seu objetivo. Se lhe derem um papel, chegue preparado, chegue na hora, aprenda bem o roteiro. E, acima de tudo, divirta-se”, diz, deixando escapar uma gargalhada forte e contundente que se perde na luz dourada da tarde californiana.
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Se não houver novas alterações, Mulher-Maravilha 1984 chegará aos cinemas brasileiros em 5 de novembro.
Com informações de Mujer Hoy.